A
volta do Capitão do Mato
Você estaria
interessado em uma promoção? Sim!!!
Para o cargo é
fundamental que seja firme, trabalhe incessantemente mesmo nos seus dias de
folga, se for necessário. Este é um cargo de confiança, daqueles que só podemos
oferecer a alguém muito especial. O valor do seu salário irá subir em torno de
30%. Para não termos problemas legais, você será demitido e recontratado como
uma empresa.
Você tem
empresa, não é? Nada precisa mudar na sua relação com as pessoas, só o fato de
que você será cobrado pelo trabalho delas. Então, é preciso ser atento a tudo
que acontece. Se alguma coisa sair do controle só me traga a solução. Não
queremos mais problemas!
Caros leitores,
é com este discurso que se contrata os novos chefes nas redações de rádio. Ou
melhor, na maioria das redações brasileiras. Com isso, acredito que estejamos
em um momento histórico, pois trouxemos de volta uma figura do imaginário
coletivo. Não! Não é o bicho papão! Nem a mula-sem-cabeça. Estou falando do
velho capitão do mato, aquele sujeito que era pago para capturar negros fugidos
e trazê-los de volta para a senzala.
Atualmente, esta
função foi delegada a vários chefetes que têm de garantir que a produção da
informação ou entretenimento funcione. Tomo o termo (capitão do mato)
emprestado de um amigo jornalista, Paulo Vieira Lima, que gentilmente nos
brindou com esta definição.
O pior é que ao
falar com amigos no mercado, percebo que a cada dia temos mais deles
espalhados. Este personagem inescrupuloso e truculento é pago na realidade para
manter a ordem dentro das empresas de comunicação. É triste que as entidades de
classe, que deveriam nos representar, estão alheias a isso. Também a maioria de
nós não vai a nenhuma reunião de instituição alguma. "Não é para menos! Não
temos tempo nem de ir na reunião do condomínio", dizem.
Erro crasso dos
empresários que não conhecem seus negócios, dos funcionários que aceitam esta
situação sem controle e sem respeito e dos elementos que servem a este
processo.
Na maioria dos
casos, os resultados são satisfatórios durante os primeiros seis meses. Mas
ninguém agüenta tanta pressão. Por isso, o número de doentes sobe. Os que fazem
corpo mole diminuem o ritmo para poderem dar conta do trabalho que vive
sobrando. E o conteúdo vai sendo piorado a cada dia.
Mesmo que se
tenha um bom chefe (sujeito raro hoje em dia) teremos outro problema: os
burocratas da administração. São aqueles que chegam e tentam reduzir custos de
tudo. Porém a realidade funciona de outra forma. Esta economia não irá resultar
em nada sem uma boa gestão. Para isso, o administrador tem de conhecer de
pessoas, do negócio que está gerenciando e do produto que está fazendo.
Infelizmente,
não temos muitos desses no mercado de rádio no Brasil. Basta lembrar aquela
história de um diretor de uma grande emissora de São Paulo, que após um erro
técnico ficou furioso e foi perguntar o que aconteceu, pois queria a cabeça do
culpado. Quando disseram a ele que foi um problema no CUE da mesa, mais que
depressa ele sentenciou: Demitam este tal de "QUIU". O fato indica
que o pobre gestor não sabia que estavam falando do sub canal da mesa de áudio
utilizado para escutar os conteúdos fora do ar.
Então se você
está no mercado e se identificou com o perfil acima sugiro que: tente rever
seus valores, pense melhor no dia-a-dia e procure aprender a gerenciar melhor
suas tarefas, incluindo administrar pessoas com respeito e bom senso. Lembre-se
de que você também poderá ser demitido, o que acaba acontecendo quando tudo dá
errado.
Nesse momento,
perceberá que o seu "pequeno reinado" era não mais do que uma senzala
e que você era um número em uma folha de pagamentos. Além disso, este caminho
não tem volta, pois todos aqueles que perguntarem sobre você para os seus
colegas vão saber seu jeito "sutil". Aí só resta voltar a ser capitão
do mato em outra empresa que precisa de seus préstimos. Vida difícil e ingrata,
já que amigos serão poucos ou nenhum, a família vai sentir sua ausência e
irritação e você viverá uma guerra diária com seus comandados.
Dica de Livro
Em tempos de
grandes discussões sobre o futuro do rádio e a chegada desastrada do rádio
digital a sugestão de leitura da semana é a obra do professor Marcelo
Kischinhevsky, "O rádio sem onda - Convergência digital e novos desafios
na radiodifusão", da E-Papers.
Marcelo fez uma pesquisa refinada sobre o processo de digitalização do meio
rádio e seus impactos no dia-a-dia das emissoras. Para os leitores que
estiverem buscando referencias mais sóbrias sobre os avanços no setor o livro é
uma ótima dica.
Prof. Alvaro Bufarah, jornalista, especialista em política internacional, mestre e pesquisador sobre rádio
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